domingo, 15 de maio de 2016

Quem irá vencer o título

A Assembleia dos Deuses em redor do trono de Júpiter, de Giulio Romano


Finalmente se chega à última jornada do campeonato em Portugal.
Quiçá um ano desgastante para aqueles que gostam do Futebol pela sua beleza estética ou compromisso com ideais de desportivismo e fair-play. Não obstante de tais vicissitudes, o futebol sempre foi, é e será simbologia de paixões tão mais intensas como por vezes irresponsáveis, mas sempre ladeadas à filiação de princípios que assistem a cada cultura, a cada clube, a cada adepto.

Para aqueles que se pautaram pela constância de vitórias ao longo de quase quatro décadas, este foi mais um ano de frustação. Agora, como já alguns desconfiavam outrora, sabe-se que se deu demasiado a quem nunca mereceu tanto tempo. Por falta de sorte ou aptidões, Lopeteguí revelou-se cronologicamente um erro. A escolha do espanhol a 6 de Maio de 2014 foi um sonho, uma inspiração, talvez uma hipérbole por parte de um presidente que pretendia uma nova orientação focada em atributos nunca comprovados do treinador no abraçar a evolução de jogadores jovens a um clube vencedor. Talvez as divindades não lhe desejassem tal sucesso. Ou talvez tenha sido Jesus que não o permitiu. Fica um final de campeonato penoso, a um clube que para os rivais nunca pagou justamente pelo pecado de louvável ou condenável domínio no futebol em Portugal.

Para o bicampeão nacional, este foi um ano zero. Posicionamento responsável na base da realidade económica que nos assiste ou fruto de um erro de prevenção ou escolha, o Benfica auto-promovido ao projecto há cerca de 10 anos, confrontou-se com abrupta mudança de paradigma em sequência de igualmente abrupta mudança de treinador. Um treinador que marcou inquestionavelmente o clube da Luz com a marca da vitória, da exigência, como por vezes da polémica. Disse-se que este nunca compreendeu o anseio da direcção ou massa adepta pela promoção do jovem jogador nacional. Afirmou-se a sua incompatibilidade pelo regresso das camadas jovens ao hemisfério do clube, embora tal padrão nunca tenha na realidade sido a matriz do Benfica. Jesus saíu como não desejou, mas procurou o destino que porventura sempre pretendeu. No sentido inverso, o SL Benfica apostou no regresso de alguém confiável ao coração vermelho-e-branco. Perdeu-se a nota artística, a soberba postura pelos relvados do país, mas para os adeptos o que se ganhou talvez tenha sido o mais importante: um treinador adepto do próprio clube. No seio do benfiquismo e na sua génese de filiação, tal sentimento impera mesmo por vezes, sobre a própria razão. O destino movido a improvável proclamação, voltou a colocar o clube em primeiro.

Embora demasiadas vezes sem sucesso mas sem nunca ter perdido o estatuto de candidato, Sporting surgiu este ano mais empenhado pela disputa do título. Um regresso ansiado por uma massa adepta sofredora mas fiél a um nível incomum, provavelmente inédita à realidade de um país que de algum modo difere da inerente base de eleição do próprio clube. Jesus, que procurou no Sporting o destino de um percurso muito seu, aclamou a sí a benevolência de que nada seria como dantes. O porte de fé numa mensagem que devolveu esperança aos seus adeptos, acompanhados pelo discurso de um presidente que peculiarmente quebrou uma corrente mais formal na representação do estatuto de grande. Mostrando todo o seu inconformismo e reconhecendo à elevada matriz do clube a responsabilidade do mesmo não vencer, mobilizou os adeptos na não-conformação por lugares que não o primeiro, assim como procurou por uma responsabilização alheia inerente ao não ganhar, evidenciado à demasiados anos. Uma mensagem de ruptura, talvez prematura de consequência, mas apreciada pela corrente do clube associada a igual irreverência. Independentemente de tudo, o Sporting nesta época, esteve de volta!