segunda-feira, 16 de maio de 2016

O Erro do Presidente do Sporting: Demasiada Emoção, Alguma Razão e pouco Cérebro Humano



O título deste post evoca naturalmente a obra do neurocientista António Damásio, escrita em 1994 e editada pela Companhia das Letras. Sob a designação "O erro de Descartes: Emoção, Razão e Cérebro Humano", o autor aborda essencialmente a relação que existe entre o corpo e o cérebro, uma correlação não-considerada por um dos mais influentes filósofos da história – o francês René Descartes.

Descartes foi essencialmente um homem que conheceu ao longo da sua vivência uma série de diferentes culturas e diferentes linhas de pensamento. Numa sociedade marcadamente feudal (em plena Idade Média), o filósofo observou que os costumes e tradições de um povo influenciam o modo como as pessoas pensam e lidam. Basicamente, com as suas crenças. Entre outras teses, Descartes defendeu que a dúvida é a aurora do conhecimento. No sentido inverso, o autor português defende que a ausência de sentimentos e emoções são a antítese da racionalidade, em que todo o comportamento racional deverá ser intrínseco ao lado emocional.

A Emoção inspira-se no impulso. Define o bem estar imediato assim como a felicidade momentânea. A Razão define uma objectividade futura, assim como as consequências da decisão tomada. Todos nós somos fruto da emoção, embora a objectividade da razão seja seguramente um dos principais pilares de uma vida em equilíbrio, com um sentido à realização de modo mais elaborado, vertical e seguro. A vertente emocional atribuí ao ser humano todas as sensações de prazer naturalmente momentâneas, mas necessariamente procuradas por todos nós. No atingir de tal relação com o prazer, inúmeras vezes abdicamos da não tão atraente Razão. As consequências de tais actos, serão apenas mais tarde recolhidas.

A vertente emocional atribuí ao ser humano todas as sensações de prazer naturalmente momentâneas, mas necessariamente procuradas por todos nós. No atingir de tal relação com o prazer, inúmeras vezes abdicamos da não
tão atraente Razão. As consequências de tais actos, serão apenas
mais tarde recolhidas.

Tudo isto para apoiar a análise que o presidente do Sporting Clube de Portugal me merece. Bruno de Carvalho configurou-se como um candidato à presidência do clube que actualmente preside, sob o formato de alternativa ao por sí definido Status Quo que prevalecia ao longo de décadas no clube: por razão da génese cultural do emblema, reconhecia nele uma conduta de presidencialismo semi-feudal da qual o Sporting se tinha tornado mártir, sacrificando o prestígio obtido por vitórias à mercê da subserviência não apenas a clubes rivais, como a uma passividade que excluía o clube das vitórias.

Perante uma massa adepta emocionalmente descontente mas pouco empenhada no esclarecimento – como todas as massas o são –, o surgimento do apóstolo colocando a descoberto clandestinas frustrações – como todas as frustrações o são – e apontando alvos em concreto, conseguiu de modo fácil e sem impugnação o mais fácil júbilo da história do clube. Nem na sua altura, João Rocha que hoje se edifica hiperbolicamente a Rei, foi tão soberanamente aclamado. De repente, com uma comunicação essencialmente focada na resposta imediata a questão confusas, Bruno de Carvalho despertou as emoções dos crentes ao Clube. Criou-se então uma corrente humana emocionalmente movida, descaracterizando-se a possibilidade da Razão em redor do futuro do clube.



Forjado o ferro, procurando o conflito e a dôr como estrada de um sucesso por sí contemplado, Bruno de Carvalho permitiu o sonho tomar conta de sí, tão quanto cada adepto permitiu a sí próprio encarnar no mesmo paradigma. Criou-se assim a canonização de um novo Sporting, reconfigurado numa matriz que nunca foi a sua, numa índole de complexo de Édipo, como se de uma prostituição intelectual a matriz do Sporting se tratasse.

Pessoas que hoje "fazem" o Sporting, nomeadamente o seu presidente, o treinador, assim como os responsáveis mais visíveis, são uma face oposta ao que 90% das gerações sportinguistas acreditaram. Os Pais daqueles que hoje se dizem ser do Sporting, acreditaram não numa fantasia como Carvalho sempre desejou sublinhar, mas num modo de estar no desporto e na vida em simbiose com a Razão e o Estatuto. Razão e Estatuto fizeram do Sporting o Sporting, assim como por exemplo, Emoção e Permissão fizeram do Benfica o Benfica. Não aponto tais condições como uma crítica. É isto que os clubes são, e como tal, esta foi a génese da sua rivalidade eterna.

Bruno de Carvalho é um indivídio que despreza a génese do Sporting. Enquanto o povo se imberbe entre o apocalípse de discursos heteróclitos ou a burguesia de descortinar relatórios & contas provincianos, ele e todos aqueles que o acompanham transformam o clube num corpo sem alma, onde virtualmente um coração bate, enquanto bater. Peço honestidade às gerações mais novas! O que lhes foi transmitido pelos anciães que lhes mostraram o que era o Sporting? O que lhes fez gostar do Sporting quando decidiram ser sportinguistas e pouco se vislumbrava em formatação de títulos? Tiveram vergonha do Sporting algum dia das vossas vidas, levando-vos agora a acreditar que não existe diferença entre o que Bruno de Carvalho pensa e o melhor caminho para o clube? Na medição triste de sportinguismo, então eu digo-vos que se assim o foi, vocês nunca foram do Sporting.

O Sporting não demonstrando desportivismo – mesmo que em momentos dele duvide –, não merece o louvor do desporto nem quem por ele se apaixona. Entenda-se que é possível admirar um clube mesmo que este não ganhe;
a maioria das pessoas desta vida também não ganham.

Declarem carinho ao clube, observando na planície da vossas vidas o abraço fraterno à Razão. No cume da Emoção, nunca abandonem a reflexão que tal momento exige, porque não há razão em momentos baixos que provoquem emoção em momentos altos. O Sporting declarando guerras sem objectividade, vence jogos mas não ganha títulos. O mesmo que conseguiu sem guerras. O Sporting colocado-se incómodo a terceiros, desprotege o seu reino, confundindo o seu povo. O Sporting não demonstrando desportivismo – mesmo que em momentos dele duvide –, não merece o louvor do desporto nem quem de ele se apaixona. Entenda-se que é possível admirar um clube mesmo que este não ganhe; a maioria das pessoas desta vida também não ganham. Mas podem ser admiradas se forem dignas. Sem ser admirado, fruto desta eleita mensagem de nojo ao mundo do Futebol do qual o Sporting tem vindo a subscrever, o Sporting passa a ser odiado, em igual proporção ao sentimento transportado por aqueles que neste momento também vítimas do seu ódio ao alheio, procuram neste presidente o próximo balão de oxigénio.

A Sporting sobrevive deste modo. Mas não cresce. Não caminha para lado algum. Quem desejar apontar ao lucro no final do trimestre como resposta cabal a todo este indelicadamente longo texto, encontrem então em tal aglomerado estatístico uma numerologia de razões para o lerem de novo estas linhas, desde o princípio.