Quando os jovens artistas Jerry Siegel e Joe Shuster criaram para a DC Comics o Superhomem – inicialmente um vilão – não previam que o sucesso desta personagem venderia em três meses um milhão de cópias em revistas de banda desenhada. Algumas décadas mais tarde, o editor Julius Schwartz sugeriu uma narrativa que integrasse o herói num combate com Muhammad Ali.
O enredo baseava-se na pretensão da raça alienígena Scrub colocar frente a frente o seu maior guerreiro contra um "representante" do planeta Terra. Se ganhassem, a terra seria destruída. Elegeu-se então o Superhomem, mas Ali invocou que este não sendo um natural terráqueo, não poderia ocupar tal responsabilidade. A coisa terá sido então resolvida num combate entre os dois onde se viria a apurar quem lutaria em defesa do planeta. Para tal, o Superhomem terá abdicado dos seus poderes e treinado boxe como preparação.
Não terá sido a primeira ocasião onde a personagem do Superhomem foi utilizada com propósitos de mensagens sociais. Décadas antes, após o fim da Segunda Grande Guerra, terá existido uma narrativa de vários episódios onde o "Homem de Ferro" combateu a proliferação de um dos maiores problemas norte-americanos na ocasião – o Ku Klux Klan.
Em 1978, à data da publicação desta história, Ali não era sequer o campeão do mundo na modalidade na qual se destacou, nem era propriamente reconhecido por toda a América como um herói, como mais tarde veio a suceder. Julgado a 28 de Junho de 1967 pela recusa na integração do exército norte-americano a respeito da Guerra do Vietname, Ali era essencialmente uma personagem bastante controversa. Nunca aceitou um acordo do governo – onde naturalmente nunca pisaria o terreno de guerra, pretendendo-se usar a sua imagem como factor de motivação das tropas – por se considerar contra a tomada de posição contra o povo do Vietname.
A DC tinha nos seus quadros uma série de jovens liberais judeus, que utilizaram este acto como uma perfeita manobra política contra uma América em ruptura social intensa - pela Guerra no Vietname.
Apesar do lançamento desta revista de banda desenhada ter ocorrido apenas uma década mais tarde, a decisão da DC Comics colocar Ali num frente-a-frente com o homem branco mais poderoso à face da terra – em mito – foi um acto de alguma polémica. A DC tinha nos seus quadros uma série de jovens liberais judeus, que utilizaram este acto como uma perfeita manobra política contra uma América em ruptura social intensa.